quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Personagens/prelúdio e antepassados

01-PRELÚDIO

“Estamos em Zanaria, a capital do rei. O reino de Aureham está em festa, todo o castelo foi decorado com as mais lindas flores, o enfeite mais belo, tudo brilha e resplandece; os criados estão felizes, sempre ficam assim quando as festas acontecem, esta para eles é muito mais especial do que todas as anteriores, pois muitas coisas mudariam no reino”.

“O rei Fagus Sylvatica é um homem muito sábio e justo, procurava manter seus súditos satisfeitos e felizes; por sua vez eles lhe retribuíam em lealdade e amor. Mas sua rainha havia perecido já fazia algum tempo o que o entristecera muito, a não ser por um presente que lhe deixara: Uma herdeira, a princesa Impatiens Glandulifera que todos amavam e adoravam, não havia como descrever sua beleza, pois era linda demais, não só por fora, mas também por dentro, sua bondade não tinha igual. Mas já estava chegando na idade de se casar e existiam muitos pretendentes, de seu reino e de reinos em volta, restava agora saber quem seria o escolhido pois o povo ficava apreensivo e com medo, sabia como funcionavam as coisas nos reinos vizinhos. Este era o motivo desta festa ser especial para eles, seu futuro estaria sendo selado com o escolhido.

“O rei também sabia disso pois era um homem que já havia visto muitas vidas e vivido muitas outras. Por este motivo organizara um torneio para escolher o pretendente que melhor cuidaria de sua filha e de seu reino. Não seria uma disputa de habilidades na arte da luta ou da guerra e sim uma disputa para selecionar o mais valoroso homem, que fosse guerreiro, sábio, amigo, observador e principalmente: bondoso e tolerante. Apenas em um torneio onde seriam testados pelas situações do caminho é que as qualidades viriam à tona e seriam percebidas sem disfarces.

“Ele deveria ser inocente como as corças que corriam pelas florestas; fiel e leal como os falcões que protegem seus ninhos; corajoso e destemido como uma mãe ursa que defende seus filhotes; sábio como o vento que sopra onde sabe ser necessário; observador e paciente como a lua que observa seus ciclos esperando o momento certo de mudar; sonhador como uma criança que planeja seu futuro em meio às tempestades criando mundos onde não existiam; enfim, ele deveria ser um rei de verdade mesmo que não soubesse que o era, se fosse necessário teria que ser preparado pois todos sabem que o Universo não escolhe os preparados e sim prepara os que foram escolhidos, e se fosse necessário o rei daria um jeito. Em sua sabedoria preparou uma prova em que talvez nenhum dos pretendentes sairia vitorioso. Deveria ser encontrado um tesouro de valor inestimável que não existisse igual. A este tesouro não seria dado um nome mas o valor de cada homem seria medido pelo que acreditava ser um “tesouro”, sabia o que estava fazendo, a escolha certa, as profecias diziam que o prometido surgiria em sua frente de forma inesperada, “atropelada”, de um jeito que não poderia passar despercebido então ele, o rei, saberia que havia encontrado o prometido...

“O rei tinha como hábito consultar o grande livro sagrado e foi nele que teve a inspiração para este torneio para descobrir o valor de cada ser que habitava seu reino e os vizinhos, isso porque não existiam apenas seres como nós conhecemos em Centáurea, seres estranhos andavam em suas trilhas e viviam em seus reinos, seres valorosos, dignos, misteriosos e também outros inferiores como em todos os mundos, gananciosos, ladrões, mentirosos, que venderiam suas almas por uma moeda de ouro. As florestas escondiam muitos segredos, mistérios e perigos, este mundo chamava-se Centaurea. Este momento era crucial pois as trevas estavam se tornando mais fortes a cada dia e entre os escolhidos estaria o prometido que salvaria o reino através do encontro do tesouro.

“Eu estou encostado em um canto ao lado de uma coluna observando a corte reunida que aproveitava este momento para flertar com seus pares e combinar encontros com seus consortes, era claro que para a maioria dos que estavam presentes os motivos da festa não importavam e sim os resultados das relações que promoveriam neste dia memorável. Hoje estão presentes reis, rainhas, príncipes, duques, condes, aventureiros, cavaleiros, sábios, magos, enfim, toda a sorte de pessoas poderosas ou não; mas não importava, todos os que aqui estão neste momento poderiam pedir favores, ganhar aliados ou comprá-los, se oferecer como tais, flertar, conhecer futuros amantes, beber, comer, etc. Como sempre, se aproveitar do momento de festa.

“Estão presentes inclusive os que perderam a disputa promovida pelo rei para o prometido de nossa princesa, novo príncipe e futuro rei de Centáurea. Estão aqui os que voltaram com jóias preciosas saqueadas em um reino vizinho mas que não eram o que o rei pedira; os que vieram com povos conquistados como escravos, mas também não era o que o rei determinara; outros trouxeram seres desconhecidos como prisioneiros, o que me incomodou pois estes seres desconhecidos, alguns de aparência estranha eram da mesma espécie dos muitos que me ajudaram em minha jornada até aqui, todos os lugares por onde passei, as pessoas que encontrei, as situações que vivi, foram necessárias para chegar aonde estou agora, assim como o lugar onde estou me trará os ensinamentos que preciso para ir onde sou esperado. Ser esperado, sim, sou um dos que eram esperados, o único que sem saber encontrara o tesouro solicitado pelo soberano, pensei estar derrotado pois não havia conquistado povos, riquezas, terras, nada, a única coisa que me fez voltar foi a confirmação de Quercus. Mudei muito durante a busca, enfrentei inúmeros perigos principalmente dentro de mim, os meus medos interiores, sofri derrotas, foram as coisas que me aconteceram em minha longa jornada desde o momento em que sai de minha terra que me ajudaram a crescer, eu não era mais o que fui um dia passado, mudei minha forma de sentir, pensar e agir.

“Sim, eu fui o vencedor do torneio, o único que encontrou o tesouro solicitado sem saber que o mantinha comigo desde o momento em que havia nascido, perambulei por florestas e montanhas, encontrei seres dos quais apenas ouvira falar e outros que nunca imaginara, conversei com magos, Centauros, feiticeiras, árvores falantes, espíritos da floresta seres do éter, estrelas, dragões, valorosos guerreiros, lindas aldeãs, perigosos ladrões, aventureiros perdidos como eu que já nem sabiam onde era sua terra ou para onde estavam indo quando se envolveram em sua caminhada. Alguns dos que encontrei me entusiasmaram para prosseguir em minha busca e me acompanharam em busca de aventuras e é claro uma parte do tesouro, enquanto outros procuravam me manipular e atrasar com os subterfúgios da ilusão e outros ainda que tentaram me impedir aprisionando-me para que não completasse minha busca.

“Parece que foi ontem. Me recordo como tudo começou, como entrei nesta aventura longe de meu povo, do qual sinto de vontade de estar novamente perto, lembro das fogueiras à noite, as histórias que eram contadas nelas, dos sábios com o conhecimento secreto de nossas origens e do mundo ao nosso redor e principalmente de minha amiga e companheira de infância Populus Tremula”.

“Venho de Terea, meu povo vivia em uma aldeia em um platô no alto de das Cordilheiras Altas, o acesso não existia mais como no tempo de nossos antepassados, fazia muito que meu povo se evadiu para lá, mais do que se pode lembrar, o caminho foi destruído pelos antigos para não ser encontrado pelos que viviam fora. Estávamos neste lugar a mais tempo do que poderíamos nos lembrar, os anciãos contavam historias em volta da fogueira. Falavam de batalhas pelo poder, de feiticeiros fantásticos que lutavam alguns pelo bem e outros pelo mal, seres inimagináveis para meu povo que apenas estava acostumado com o que via. Essas lendas falavam de castelos magníficos, cavaleiros em armaduras brilhantes carregando estandartes com o símbolo de seus senhores que se digladiavam em nome da honra, belas princesas infalivelmente em perigo esperando serem salvas por um audacioso cavaleiro de valor, seres gigantes a que se dava o nome de dragões com asas imensas encobrindo o sol quando voavam, soltavam fogo”. pelas narinas e pela boca, viviam para destruir e se alimentar de seres humanos(vim a descobrir depois que não eram tão maus assim).

“E eu ficava maravilhado com essas histórias, me imaginava vivendo essas aventuras, sendo um cavaleiro, um guerreiro, um trovador que fosse, mas vivia as histórias do passado, não conseguia mais viver com meu povo, eles tinham medo de cair no rio pois sabiam que o rio os levaria ao passado contado nas fogueiras e do qual tinham medo, medo do que poderia lhes mostrar o rio depois da próxima curva pois todas as lendas diziam que a nascente da qual bebíamos água, nos alimentávamos, nos banhávamos, depois da curva se encontrava com o mundo do qual nossos antepassados se refugiaram vindo para estas montanhas, um mundo onde imperava a discórdia, a desconfiança, onde nenhuma pessoa podia viver seus sonhos pois era considerada louca, mas engraçado, as pessoas que são praticas, que executam, precisam de loucos e sonhadores que lhes dêem o que realizar...Mas os que eram práticos e executores não sabiam lidar com isso, queriam manter o controle dos sonhos dos loucos sem perceber que mantidos sob pressão e tensão não iriam mais conseguir sonhar e assim sendo passariam a ser perseguidos. Os executores se alimentavam e se divertiam com os sonhos, davam gargalhadas sem perceber e assumir que gostariam de ter o ímpeto e a coragem de viver aqueles sonhos. Eles precisavam dos contadores de historias para alimentá-los. Aqui eu fazia parte dos que queriam sonhar, quando nosso povo abandonou aquele mundo e veio para cá ainda sonhava, hoje já não sonha mais como no principio, apenas se alimenta dos sonhos velhos dos anciãos, a única coisa que sabem do mundo exterior são lendas passadas e quase esquecidas, isso contadas do jeito deles a fim de nos manter longe de lá, restava para nós criar nossos sonhos a partir do que nos contavam.

“Eu acreditava que após a curva do rio poderia encontrar a verdade da origem de meu povo. Pretendia fazer uma balsa, abandonar as histórias contadas na fogueira e começar a vivê-las pessoalmente, meu povo já não lembra mais o porque de ter se refugiado neste vale. Existiam magos que curavam as feridas físicas e emocionais do povo, utilizavam certas ervas que só eles conheciam e sabiam manipular, muitas nos levavam a um mundo de sonhos controlados por seres mitológicos e desconhecidos dos humanos. Hoje eu sei que esses mesmos magos se perderam em seus conhecimentos e ervas, criando um mundo tão fantástico além da curva do rio que passaram a ter tanto medo dele quanto o que colocavam em nós. Mas eu não tinha tanto medo assim e partiria, só estava aguardando o momento de estar pronto. Minha balsa deveria ser construída em segredo, ninguém poderia saber dela, do contrário tentariam me impedir, me fariam ingerir da bebida que todos tomávamos e que nos levava a outros mundos e assim os”. nossos anciãos manteriam seu poder sobre mim, me deixando alienado do mundo exterior e com medo.

“Apenas minha amiga e companheira Populus, que apesar de me dizer que eu estava louco é quem sabia o que pretendia. Eu mantinha meus sonhos, sonhos esses de viajar e conhecer o Universo que me estava sendo negado por superstições antigas e que para mim apenas despertavam a curiosidade de viajar. Eu consegui, montei a minha balsa e convidei-a para ir comigo, mas não aceitou, o medo era maior do que a vontade de arriscar e conhecer o mundo desconhecido que aguardava pulsante lá fora, depois da curva do rio, ela tinha pressentimentos a respeito do que podia acontecer e isso a assustava. Preparei a balsa com todo meu carinho, era na forma de um caiaque largo e não muito longo para ficar fácil de manobrar caso se fizesse necessário, montei uma cobertura de couro que vinha curtindo e costurando em segredo já fazia algum tempo. Todo o conhecimento que consegui acumular no decorrer dos anos que vivi no alto de minha montanha montei em pergaminhos, elaborei um mapa da região conhecida por nós, não nos aventurávamos muito longe da aldeia por isso o mapa era dos arredores dela, levei pergaminhos lisos para fazer mapas dos lugares por onde passasse, e levei os que copiei das histórias dos velhos, se é que poderia chamá-los assim pois como já disse as informações que nos eram passadas não eram muitas, mas aproveitava os momentos em que os anciãos entravam em transe, nessas horas eu me aproximava da cabana onde se reuniam e ficava em silencio escutando, usando a imaginação e a arte de sonhar montei meus pergaminhos e mapas ( mal sabia que não durariam muito tempo comigo ). Separei frutas, algumas verdes pois amadureceriam com o passar dos dias, outras maduras para poder comer enquanto viajava; um pouco de pão e de carne seca, que não estragaria durante o trajeto permanecendo saudável para meu paladar. Separei cobertas, o fim do rio depois da curva poderia estar distante e o frio da noite poderia me incomodar demais; levava meu alaúde, instrumento de cordas com a caixa pequena em formato de um casco de tartaruga onde em suas cordas encontrava conforto e encantava a aldeia, serviria para me distrair durante as noites intermináveis que teria pela frente, como sempre havia sido meu companheiro, agora seria muito mais.

“Todos tinham medo do rio, pois aqueles que o desafiaram nunca mais voltaram, no fundo no fundo eu tinha medo também, mas não de não voltar e sim de não conseguir chegar em nenhum lugar e descobrir que estava errado, eu não sabia como era o fim do rio ou como ele se comportaria. Vejamos, após a curva a mata começava a se fechar pouco a pouco, até poderíamos abrir picadas e trilhas, mas o medo entre todos sempre foi maior do que a vontade de arriscar, ouvíamos ruídos vindos desta mata, sons que durante a noite nos mantinham em nossa aldeia sempre próximos das fogueiras e uns dos outros, durante o dia percebíamos rastros ao redor dela, muitas vezes os seguimos mas sempre terminavam no ponto em que a mata se fechava, alguns eram de animais conhecidos mas outros muito estranhos, como um deles que parecia ser de um bode, mas bodes não andam apenas com as patas traseiras. Sempre que estes rastros surgiam se ouvia o som de um assobio, porque não dizer de uma flauta bem suave, alegre e distante. Este era o que mais despertava minha curiosidade. Já para o lado de onde vinha o rio tínhamos trilhas, era nele que pescávamos nosso alimento principal e nos divertíamos nadando e brincando, s mulheres lavavam as roupas nele, mas nunca nos aventuramos longe o bastante para ver onde ele nascia.

“Até que chegou o grande dia da minha partida, eu estava pronto. Me despedi de Populus, dei uma última olhada para minha aldeia e segui para o rio, construí minha balsa próximo da curva pois sabia que não haveria perigo de alguém encontrá-la. Já estava abastecida e pronta, o dia começava a despertar e o sol se levantava no horizonte. Parti com um aperto no coração, era doloroso sair assim sem me despedir daqueles com quem convivi desde meu nascimento, escondido como um ladrão, mas era necessário, não acreditava ser justo o que os velhos do conselho estavam fazendo conosco, nos privando de um mundo que nem eles viram, queriam que fossemos como eles, com medo do desconhecido. Eu ia tirar isso a limpo agora e voltar para contar a todos o que vi, o que era verdade ou mentira. Parti com uma canção em minha voz e meu coração:

“Olhe pássaros cantando, esperança não morrera,

ela te faz imortal, quando acordar

verá que somos seres de luz;

E o amor baterá em seu coração,

e você sentira as flores

dançando o ritmo do vento;

Atravessando fronteiras, cruzando o espaço,

e ao som desta música eu saberei

que procuro uma estrada;

Onde todos cantem juntos, olhe a luz como brilha

os astros que dançam

a Orquestra Transcendental do Céu”

“O caminho após a mata fechada se abria e as paisagens eram lindas, pássaros, caça abundante e todos sem medo, não conheciam os homens nem sabiam o perigo que representavam, a mata impedia os animais de se aproximarem e o medo prendia os homens. Continuava repetindo minha canção e a paz foi me envolvendo, até que adormeci, havia passado a noite em claro sonhando com o que encontraria, estava cansado e a segurança excessiva que sentia foi me amolecendo. Despertei com um estrondo, pareciam trovões, quando olhei à frente só pude perceber a entrada da caverna, enorme, parecia a boca gulosa de um Dragão, a força da correnteza havia aumentado, não tinha como me desviar para a margem, os remos não adiantavam, segurei-me nos lados e comecei a rezar:

“Pai, sempre fui insatisfeito com a vida que levava,

me sentia um prisioneiro, queria conhecer novos mundos,

outros povos, libertar meu povo do medo com o qual convivemos a tantos séculos,

claro, não era apenas isso, também existia a minha curiosidade

e a minha vontade que talvez também fosse a sua porque sei

que não concede um desejo muito forte a ninguém sem dar também

o poder de realiza-lo, se for para me juntar ao senhor neste momento posso aceitar,

não quero desafiá-lo, mas se preciso for o farei pois irei lutar,

não sei o que foi destinado para mim,

Quero pedir, serenidade para aceitar o que não posso mudar,

a coragem para enfrentar aquelas que posso

e a sabedoria para perceber a diferença.

E essa situação acredito poder mudar pois não acredito

que me trouxe até aqui apenas por capricho,

se for uma prova para ver minha determinação eu aceito”

“Neste momento os céus me responderam com um trovão, nunca havia ouvido nada assim antes, meu sangue gelou, devo ter deixado alguém muito bravo lá em cima e então a caverna me engoliu, era uma escuridão sem igual, nunca tinha visto nada assim e pensei comigo: “Chegou minha hora, quem sou eu para desafiar o “Pai” e meu destino?” A balsa continuava acompanhando o rio, mas não sei porque, não se aproximava das paredes da caverna, a velocidade da água começava a diminuir mas havia um outro estrondo, maior que o da entrada da caverna e isso me assustava mais ainda, será que o “Pai” queria primeiro me apavorar mostrando quem mandava para depois me levar? Não, não podia ser isso. A luz começou a surgir, estava chegando ao fim e o barulho aumentava cada vez mais, o céu surgiu, este local era mais lindo ainda que o anterior mas não deu muito tempo para ver pois o barulho me atraia mais. Me dei conta então, uma cachoeira grande, não deu nem tempo de tentar pular na água e nadar para a margem, a hora que vi estava despencando e foi quando perdi os sentidos.

Fagus Sylvatica - Beech - faia

Impatiens Glandulifera - Impatiens - maria sem vergonha, beijo

Populus Tremula - Aspen - choupo

02 - ANTEPASSADOS

“Acordei na margem do rio, sem balsa, mantimentos e ensopado, demorou um tempo até entender o que havia acontecido. Fiquei parado, sentia que olhos me observavam, as histórias antigas me voltaram à mente e tinha medo de mover a cabeça, gostaria de não sentir mais medo, mas nasci e cresci com ele plantado em meu interior: “Não vá por ali, não entre lá, é perigoso, não faça isso, não faça aquilo”, e esse desejo que me movia: “Porque não arriscar? Porque é proibido?” Só diziam que era, mas não o porque.

*inserir gravura na página ao lado da descrição a seguir

“Criei um pouco de coragem, e levantei a cabeça, o que vi me surpreendeu pois não era o que esperava, ao invés de dragões com bocas em chamas ou monstros vi lindas mulheres montadas em cavalos que nunca havia imaginado antes existirem, os corpos deles da cintura para baixo era de cavalos de porte magnífico, mas da cintura para cima eram homens,. Eram denominados Centauros, parecia um cruzamento de cavalos e homens, como surgiram se perdeu na história dos tempos. As mulheres? Bom, elas eram lindas, todas tinham longos cabelos dourados que desciam em tranças ou soltos quase até a cintura, vestiam roupas de pele mas deixando o corpo à mostra, botas, isso dava mais mobilidade durante as batalhas, seguravam lanças nas mãos, e todas tinham adagas e espadas na cintura bem como arcos e flechas presos às costas. Eram guerreiras. Mostravam-se mais surpresas do que eu e conversavam com suas montarias a meu respeito, eles seguravam em suas mãos arcos e flechas, pareciam tensos e eu fiquei preocupado. Não me movi, esperava que dissessem algo, conversavam em uma língua que eu não conhecia. Ao meu lado repousava meu instrumento, estava intacto, me veio uma idéia na cabeça, estendi as mãos para ele e comecei a tocar e cantar:

“Hei amigos, vou lhes contar uma história,

uma história interessante, interessante demais,

Essa história fala de um cara diferente,

que andava por aí contando para a gente,

histórias diferentes, contando histórias,

Ele dizia querer sair e andar por lugares longínquos,

lugares onde encontraria seres amigos,

que voavam pelo espaço sideral

situado em algum lugar,

Ele não pedia que acreditassem no que ele dizia,

apenas cantava para quem quisesse ouvi-lo,

e foi quando ele disse que a fantasia é um meio muito especial

para melhorarmos nosso encontro com esse mundo.”

“Bom, os Centauros armaram seus arcos quando peguei meu instrumento, as guerreiras puxaram suas espadas, mesmo assim continuei tocando, pensei comigo: “Qual a melhor maneira de se perder o medo a não ser o enfrentando?” Aos poucos os arcos começaram a se afrouxar, as espadas foram embainhadas outra vez e todos começaram a sorrir para mim. Eu estava abobado, se a música acalmava as feras, comecei a pensar na próxima, mas não tive tempo pois elas desceram de suas montarias e me examinaram. Gritaram uma ordem e do fundo do grupo vieram duas mulheres vestidas com longas vestes brancas maio que transparentes, pareciam sacerdotisas de algum culto, não portavam armas, elas pegaram com todo o cuidado meu instrumento, o embrulharam e guardaram, em seguida levaram-me até um Centauro ajudando-me a montá-lo, observaram se estava seguro, conversaram algo que não compreendi com ele e sorriram para mim se dirigindo para suas montarias. A guerreira que as comandava gritou algo que parecia ser uma ordem de marcha e todos começaram a se mover para dentro da floresta.

“Eu não sabia para onde me levavam ou o que diziam mas sorria para cada um que olhava para mim, e todos olhavam pois meus cabelos eram castanhos, minhas vestes estranhas e eu sorria mais do que o normal deles. E determinado momento a floresta se fechou de uma forma que passávamos em fila indiana, um após o outro. A trilha acabava em uma caverna e eu de cavernas já havia tido minha cota naqueles dias, mas agora era diferente, estava acompanhado de seres que conheciam o caminho e sabiam para onde estavam indo. Entramos na caverna e tochas estavam acesas, as sentinelas já haviam nos visto e estavam prontas nos aguardando, ficaram surpresas com minha presença, não pareciam ver muitos homens por ali. Quando chegamos ao outro lado da caverna fiquei abismado com o que vi, uma cidade toda construída em pedras, troncos e sapé. Fiquei curioso em saber de onde vinham, porque não existiam homens ali, para onde será que teriam ido? Vi alguns meninos, mas todos com no máximo um ano, O que haveria levado aquelas mulheres a se refugiarem dentro do que parecia ser um gigantesco vulcão adormecido?

“Ordens foram dadas e fui levado para uma cabana, obedeci sem pestanejar, não sabia o que seria feito ou decidido a meu respeito. Me serviram frutas, carne e pão, para beber trouxeram algo que nunca havia tomado antes em minha aldeia, era uma bebida que aquecia por dentro e descia queimando um pouco a garganta, ela revigorava o corpo e a mente ao mesmo tempo em que relaxava também. Me alimentei e bebi, logo em seguida adormeci, não sei se por causa da bebida ou outro motivo.

“Acordei sentindo que era observado (estava se tornando um hábito acordar assim ), havia uma linda mulher toda vestida em sedas brancas me estudando, sorri para ela e tentei conversar mas não me entendia, fez um sinal para que a seguisse e me levou até a nascente, entregou-me uma toalha e apontou a água, deu-me também uma barra de sabão cheiroso, um cheiro diferente também, tudo era diferente, tudo era estranho para mim, tudo era novo. Me banhei e ao sair da água encontrei roupas limpas me aguardando. Quando estava pronto fui encaminhado ao centro da aldeia onde o conselho se reunia a minha espera. Estavam todos lá, os Centauros, as guerreiras e no centro a rainha. Disseram algo e de uma outra cabana um vulto começou a se aproximar, vestia uma longa capa com capuz e não dava para ver o seu rosto, apenas que tinha uma idade avançada, devia ser uma conselheira porque todos a reverenciavam, ela se aproximou e se sentou ao lado da rainha. Teve início o debate:

“Conversavam entre si em sua língua estranha, isso se prolongou por um tempo que parecia ser interminável, os Centauros pareciam estar nervosos comigo e minha presença os incomodava, isto estava bem claro, as mulheres estavam curiosas, interessadas, isso pela novidade pois nunca um homem havia sido levado para dentro da cidadela, e isso era motivo de curiosidade, principalmente entre aquelas que nunca haviam tido um. De repente a que parecia ser a conselheira se virou para mim, não disse nada, apenas retirou o capuz e foi então que fiquei mais surpreso ainda, não era uma mulher, era um homem idoso. Tinha uma expressão de sabedoria e serenidade. Começou a falar comigo e continuei sem entender nada até que tentei falar em minha própria língua.

“Para ele foi uma surpresa, disse algo para o grupo e fui levado para sua cabana, enquanto aguardava comecei a pensar em um plano de fuga, vai saber o que iam fazer. Então veio o silencio, havia terminado o debate e ele entrou acompanhado da rainha. Me observava como se me conhecesse a muito tempo e me esperasse, de repente começou a conversar comigo em minha própria língua, o que me surpreendeu.

“Disse chamar-se Hottonia Palustris e que me encontrava na aldeia de Zeedris e o vale se chamava Zedram, estas mulheres eram chamadas de as Guerreiras de Zeedris. Então me contou a história de um povo valoroso e sábio. Viviam fora da cidadela e um pouco distante, a muito tempo atras ele desaparecera sem deixar rastros, eram guerreiros, grandes amigos de todos os povos que necessitassem e construtores também. Mas um dia depois de muitos debates de seu conselho de anciãos, grande parte da aldeia resolveu abandonar as armas e o contato com o mundo. Tentaram se isolar em seu próprio espaço mas sempre, sempre surgia um andarilho trazendo historias de longe, de guerras, fome, explorações contra os mais fracos, eles diziam não poder mudar o mundo, apenas preservar o seu próprio. Então enviaram exploradores em todas as direções em busca de um lugar onde as notícias não os alcançassem e pudessem preservar seu povo. Muitos dos que partiram não voltaram, os anciãos imaginaram que foram seduzidos pelo mundo do qual pretendiam fugir, isso fez com que o desejo de desaparecer se tornasse maior. Começaram a influenciar o povo para que não recebessem as pessoas de fora, trancaram seus portões e saiam apenas para caçar e nunca sozinhos.

“Um dia, depois de muito tempo, quando as crianças haviam crescido e sabiam apenas que não podiam sair, bom, nem lembravam como era do lado de fora, os adultos em sua maioria já não se dava conta de sua prisão auto imposta, chegou um senhor de uma certa idade. Não quiseram deixa-lo entrar, ninguém o conhecia e a lei não permitia, colocaram comida e bebida no portão e o fecharam novamente. Ele ficou ali por dias, até que um dos velhos do conselho que ainda não tinha morrido pois grande parte dos que criaram a lei de isolamento morreu pela idade resolveu dar uma olhada, isso porque a determinação do estranho era forte, e a curiosidade dele foi grande. Foi levado até os muros e olhou, ficou chocado e não conseguia falar pois reconheceu um dos que a muito tempo haviam partido em busca de um novo lugar. Assim ele, o “estranho“, foi recebido dentro dos portões com músicas, todos sabiam que muitos partiram e nenhum havia regressado, mesmo que ele não houvesse encontrado a nova terra estava de volta, e como era um povo que amava as artes e a música cantaram a canção dos que partiram:

“Eles se foram, partiram para longe,

num rumo qualquer, vão em busca,

de vales distantes, voltarão?

Esperamos seu retorno com boas novas,

que o céu os acompanhe e os traga de volta

seguros e em paz”

“Todos aguardavam ansiosos que começasse a falar e enquanto isso pensavam nas novas linhas que acrescentariam na canção falando do retorno. Após seu descanso começou a falar aos anciãos primeiro:

- Andando atras de respostas e de um novo lar como foi ordenado, vimos os mistérios de um mundo estranho, depois de muito tempo chegamos ao alto de uma grande montanha e vimos um vale perdido, encontramos uma nave estranha e entramos, Ela subiu no espaço e entrou num portal, era um portal do tempo a nave pousou, era como um outro mundo, mas em uma dimensão paralela à nossa dentro de nosso próprio mundo. Fomos recebidos com instrumentos e sem armas, bailarinas enfeitadas dançavam sua música e assim fomos bem vindos com honrarias e festas. Ao longe, os anciãos em Theluris o Castelo de Cristal aguardavam a nossa presença ansiosos pois tinham uma mensagem para o nosso povo:

“A tempos temos observado vocês, o egoísmo e o medo os está dominando,

querem encontrar uma nova terra, vão encontra-la, mas não é aqui.

Não tentem mudar o mundo ele muda por si só, antes procurem mudar seus corações,

principalmente cuidem dos pequenos, não tentem moldá-los de acordo com seus medos,

ensinem, mostrem, mas principalmente deixe-os tomarem suas próprias decisões

e fazerem suas escolhas, cada um tem seu próprio caminho a seguir,

se tiver sido bem orientado nas leis da intuição e do Universo seguirá a trilha correta,

mesmo que sinta alguma dor, ela é necessária ao aprendizado e ao crescimento do ser,

observem seu próprio comportamento, ele servirá de exemplo a eles.

Um de vocês deverá permanecer aqui conosco onde será iniciado

e irá tornar-se um de nós enquanto o outro voltará para o seio de seu povo para guia-lo,

mas não agora, a passagem já se fechou e se abrirá apenas daqui a alguns anos,

viverá aqui por um tempo e aprenderá nossos costumes,

quando a passagem do portal se abrir

partirá levando o conhecimento aprendido no castelo de cristal,

o outro apenas poderá voltar de tempos em tempos

quando for necessária alguma intervenção,

existem muitos de nós em seu mundo mas outros devem ser preparados,

um de vocês será ele e temos dito.”

“Haviam se passado anos desde que partimos em grupos de dois, e anos que permaneci vivendo com eles, eu fui o que voltou para guia-los para nossa nova terra, é linda mas o caminho até lá é penoso, longo e cansativo, mas não faltam abrigos, caça ou água para todos. Devemos partir o mais breve possível pois estou velho já e temo não agüentar a caminhada de volta. Durante o percurso procurarei ensinar tudo o que aprendi a todos, fiz alguns mapas da região próxima de lá para o caso de não agüentar, reunam a aldeia e digam a todos que se aprontem, agora quero descansar.”

“Encerrou sua narrativa, isto era parte do que estava escrito em pergaminhos encontrados a muito tempo por seus antepassados e que foram passados de pai para filho até chegar em suas mãos. Aquele povo nunca mais foi visto, sua aldeia foi abandonada e a língua falada era a mesma que a minha, por isso ficou surpreso ao me ouvir, claro o sotaque era diferente. Ele também havia aprendido da mesma forma que recebeu os pergaminhos. Agora queria saber a minha história, de onde vinha, quem era meu povo e para onde ia. Onde havia aprendido a língua antiga que nunca mais foi falada? Eram muitas perguntas que ele tinha e muito mais ainda as minhas. Ordenou que me deixassem em paz trouxe os pergaminhos antigos para que eu os estudasse pois havia mais neles do que havia me dito, depois voltaríamos a conversar. Ele tinha algumas coisas a me dizer a respeito de uma antiga profecia que apenas magos como ele e os reis tinham pleno conhecimento e dizia respeito a mim.

“Comecei a ler depois de me lavar e comer, era a escrita de minha gente e quanto mais eu lia mais me surpreendia pois comecei a perceber que era a história de como meu povo abandonou a região para se refugiar onde nasci. Não falava a respeito da viagem ou do caminho mas ali aprendi muito a respeito de minha história, nossos medos e outras coisas que se perderam com o passar dos séculos. A intenção inicial, a mensagem dos magos de Theluris e a missão de meu povo em relação ao mundo se perdeu dentro da loucura e do esquecimento. Minha gente se tornara um bando de seres do mato, com medo da curva do rio e no final sem saber que estavam vivendo assim por causa da loucura de velhos. Pensava comigo que deveria voltar e dizer a todos o que descobrira, mas precisava saber mais.

“O dia nasceu radiante, eu acordei bem disposto e sai de minha cabana, do lado de fora encontrei meu alaúde encostado na parede e, sentadas, as Guerreiras aguardavam pois queriam me ouvia tocar e cantar, a minha música era nova para elas, diferente do que conheciam, cantei uma canção que gostava muito de tocar pela manhã:

“Venha comigo, venha ver o mais lindo alvorecer,

venha cá, sente-se aqui e venha ver o dia nascer;

Olhe os pássaros cantando e as flores desabrochando,

elas só estão dançando para poder saudar o sol,

Olhe a árvore onipotente e descubra seus segredos,

a sabedoria de viver e deixar acontecer;

Nunca te passou pela cabeça todo tempo perdido

olhe para traz e veja as dificuldades em seu

caminho, para poder saudar o sol,

então sorria ele gostou de te ver por aqui

e vai te iluminar o caminho para chegar ao seu

destino e lembre-se de uma coisinha o caminho

continua a ser bonito, basta apenas virar-se, olhar para os lados e sorrir.”

“Todos aplaudiram minha canção e eu estava feliz, queriam mais, mas o velho chegou e me chamou para caminhar um pouco, depositei meu alaúde com todo carinho e o segui. Caminhamos em silêncio até uma queda d’água e nos sentamos, ele perguntou se havia lido os pergaminhos e respondi que sim. Disse a ele ser descendente daquele povo e contei o que sabia de nossa história, o que os anciãos fizeram e continuavam fazendo, o medo de todos do mundo exterior, de minha viagem, a caverna, a cachoeira e a queda até ser encontrado pelas Guerreiras. Ele ficou pensativo por um tempo e começou a falar:

- Isso não é bom, aqueles que deveriam orientar seu povo não o fizeram, os ensinamentos contidos nos pergaminhos não foram utilizados e sim trancados, aquele que voltou, sabe algo sobre ele?

“Sei apenas o que nos foi contado, que um mago poderoso começou a guiar o povo e morreu no caminho, que tinha feito mapas e com eles nossos antepassados encontraram o platô onde estão até hoje. Creio que devam existir pergaminhos contando o que aconteceu de lá para cá mas não temos acesso a eles. O que sabemos é o que nos contam, nada mais.

“Conversamos por toda a manhã e soube muita coisa a respeito do mundo aqui de fora contada por ele, nosso conselho havia nos enganado por gerações. Perguntei a respeito da tal profecia que me envolvia, disse que depois de comermos falaríamos a respeito pois era muito sério e envolvia todo o reino. Me explicou que no tempo em que meu povo vivia ali, cada aldeia era dependente de si mesma, com o passar dos séculos foram surgindo guerras por posse de terras e escravos, um período de trevas tomou conta do mundo e o poder teve que ser tomado à força. Surgiram reis, eles governavam cobravam impostos e protegiam o povo, alguns eram justos, outros não, e o mais justo de todos tinha já uma certa idade e outros cobiçavam seu reino. A profecia viria a se cumprir pois o prometido estava próximo de chegar. Fomos à aldeia e comemos, em seguida fui descansar um pouco e aguardar o momento em que me chamaria novamente. Procurei digerir tudo o que havia me dito e o que tinha lido.

“Não muito tempo depois me levaram à sua presença, começou a falar da profecia sem muita cerimônia, ela dizia que no tempo certo viria um “guerreiro” de longe e que mudaria o destino do reino e de todos os outros ao redor, ele teria que ser forjado em seu próprio interior pois o mundo como era conhecido dependia dele e de sua transformação. O velho disse que eu era um dos escolhidos. Eu não sabia de nada, naquele momento apenas queria voltar para minha terra e libertar meu povo do jugo dos magos que nos governavam aproveitando o conhecimento que receberam de Theluris, conhecimento esse que deveria ter sido passado para o povo e não usado contra ele como foi.

“Ele pareceu ler meus pensamentos pois começou a falar em liberdade e honra, e também que eu não poderia ficar muito tempo mais ali na cidade porque as Guerreiras começavam a ficar inquietas, os homens haviam partido todos para uma guerra e não voltaram mais, isso já fazia muito tempo e elas aprenderam as artes da luta, da caça e da preservação com os Centauros que s respeitavam e protegiam como a filhas. Reprodução? Quando elas chegavam na idade de se reproduzir, ou seja quando já estavam formadas fisicamente iam em jornadas às aldeias vizinhas e escolhiam seus parceiros com quem eram inseminadas e retornavam, assim era perpetuada a raça. Se nascessem homens ficavam com elas até uma certa idade e depois eram levados para alguma cidade e abandonados para crescerem sozinhos, se fossem mulheres permaneciam na aldeia. Eu achei isso hediondo pois abandonar meninos para o desconhecido não era normal, não se sabia no que eles poderiam se transformar, mas entre elas era comum, e eu não podia fazer nada, seu costume era antigo, bom, se eu fosse o tal escolhido mudaria isso. Voltando, eu estava incomodando, os Centauros estavam nervosos, as Guerreiras não saiam de perto de mim, me rodeavam e cercavam, foi então que senti realmente, não poderia permanecer muito tempo mais por ali.

“Conversei mais com Hottonia e perguntei a ele:

- Você é um dos enviados Theluris? Um dos que deveriam ajudar os povos?”

- Sim Já faz muito tempo que estou aqui e consegui fazer algumas coisas, como diz a lei do Castelo de Cristal não podemos permanecer muito em um só lugar e sim surgir onde somos necessários desaparecendo logo em seguida pois cada povo deve aprender com a experiência, a nós caberia apenas direcionar e não interferir, mas eu me afeiçoei tanto a esta aldeia que não consegui mais ir embora e aqui estou até agora. Perdi parte de meu poder por este motivo, não consigo encontrar mais a entrada do portal, parece estar fechada para mim e agora você surgiu para salvar a todos nós, vou partir com você e te acompanhar enquanto for possível, depois veremos.

Hottonia Pallustris - Water Violet - violeta d’água