terça-feira, 19 de julho de 2011

Nossa Aventura está chegando ao fim agora com co conhecimento dos passos 08 e 09

09 - EM BUSCA DE CENTAURIUM


            “Passaram sete dias desde que Centaurium partira e cinco desde que fora capturado, Vitis e seus companheiros estavam agora no acampamento “das feras”, haviam muitos mortos, alguns a fio de espada e outros pisoteados. Deviam estar com pressa pois não enterraram seus mortos, mas levaram todas as armas, na certa para vendê-las, eram mercenários e sem escrúpulos. Ao menos não o mataram. Sabia que estavam talvez a dois dias de marcha da fronteira onde começavam os pântanos traiçoeiros, resolveu que seguiriam um pouco mais onde descansariam, pois a marcha fora forçada para todos, e não adiantaria chegarem esgotados, fatalmente seriam capturados.
            “Montaram acampamento, soltaram os cavalos e se deitaram, Vitis foi atraído pelo brilho de uma estrela, era mais forte do que as outras, aos poucos entrou em transe como que hipnotizado e saiu de seu corpo flutuando em direção a ela.
            - Bem-vindo! - disse uma voz em sua mente - Sou Ornitogalhum, sei o que está pretendendo e posso avisá-lo, não dará certo, serão dizimados ou presos também.
            - Quem é você? - tornou Vitis - Como está meu companheiro?
            - Ele está vivo, tem que passar por isso, faz parte de seu aprendizado, quando aprender a perdoar estará pronto para se perdoar e seguir em frente. A única forma de ajudá-lo é libertando o dragão, liberte o dragão, liberte o dragão... o dragão...o dragão...
            “Acordou com estas palavras em sua mente. “Teria sido um sonho? Uma estrela me dizendo para libertar um dragão, que estranho isso, mas olhando para cima viu a estrela pulsando como se dissesse: “Liberte o dragão”.
            - Acordem todos! - gritou no centro do acampamento - Tenho um plano.
            “Todos se levantaram de prontidão e o ouviram.
            - Vamos fazer uma coisa, nos engajar no exército do inimigo, assim podemos estar próximos, avaliar seus pontos fracos e descobrir onde está Centaurium.
            - Mas como vamos fazer para que não nos reconheçam, já viram o cavalo dele e nossas armas não são daqui, eles vão perceber. - disse um deles.
            - Faremos uma bandeira vermelha, esta é o sinal de quem quer lutar ao lado das trevas, e nossas armas são especiais, garanto que não serão reconhecidas pois não são deste mundo e se camuflam, qualquer coisa diremos que as tomamos em batalha. O cavalo não nos seguirá, ficará a espera - tornou Vitis.
            - Então, o que estamos esperando? - perguntaram.
            “Prepararam-se, hastearam a bandeira e deixaram Magia livre para esperar onde achasse melhor, os acompanhou por  algum tempo e os deixou prosseguirem sem ele.
            “Os sentinelas os viram aproximarem-se com a bandeira vermelha. - Bom - pensaram - Nossas forças aumentam a cada dia, a luz não poderá nos vencer desta vez.
            “Chegaram à aldeia e eram esperados por alguns homens, apenas alguns conseguiam se comunicar com os “homens-fera” e eram estes que tratavam com os recém chegados, de onde vinham, quem eram, os horários de treinamento para a batalha, alojamentos(barracas) e etc...
            “Foram levados a um espaço vago na direção do dragão, lhes arrumaram uma cobertura de couro para montarem uma barraca, o ar naquele local era pesado e garoava muito devido à proximidade do mal do castelo, e deixando-os em seguida. Vitis olhou em volta, eram desorganizados e não confiavam uns nos outros pois a área destinada aos novos recrutas estava dividida, uma fogueira em cada grupo, existiam pessoas de todas as partes, inclusive das cavernas, escamosos como eram chamados. O exército era numeroso pois o acampamento era grande, isso mais os que residiam na aldeia e os que já estavam invadindo o reino, muitos mais ainda chegariam. Seu olhar foi girando e quando viu o castelo imaginou estar lá seu companheiro. Mas havia uma montanha serrilhada além da paliçada para ser atravessada, estranho, ela parecia pulsar, como se respirasse, Vitis fixou seu olhar e então percebeu seu engano ao vê-lo levantar sua cabeça enorme e se virar para olhá-lo. Seu olhar era penetrante, chegava a dar calafrios, depois, baixou a cabeça novamente e Vitis se voltou aos companheiros que já trabalhavam, e foi ajudá-los. Os dias passaram e foram colhendo informações.

            “Eu já havia passado por várias sessões de tortura e fui jogado separado de meus amigos, desta vez na masmorra, desconfiaram de mim pois não soltara um só gemido mediante a dor, e minha postura não era de alguém comum, imaginaram ser o prometido. Eu estava sozinho, mas com muito do que Ilex e Larix haviam me passado, contudo meu ódio pelas trevas e seus algozes me cegava.
            “Ilex me dizia que não deveria deixar o ódio me dominar, que devia me guiar pelo amor compaixão e perdão, Salix juntou a isso a purificação sem ressentimentos. Os dois falavam muito sobre desenvolver em mim o amor contido atrás de meu ódio e desejo de vingança, o amor ao outro e ao mundo, esse amor estava bloqueado. Compreendo minha existência em parte, o meu destino é decidido por outros. Acreditava não ser merecedor de felicidade na vida, tudo parecia estar indo bem, de repente, do mesmo modo que eu crescia, o chão parecia se abrir sob meus pés e era tragado pelas perdas, negativismo e sofrimento, que droga de vida, até quando ia durar aquele sofrimento eu me perguntava. Como iria estar ao lado de Azuen e das crianças daquele jeito?
            “Aquele lugar horrível sem luz, sem o canto do pássaros, sem o aroma das flores e da natureza, a água fresca das nascentes, o vento fresco que soprava do leste, meus amigos, Azuen, Magia, enfim, tudo o que havia de bom, além de minha música é claro. A lua e as estrelas, a quanto tempo não via o céu azul? Já não sabia quanto. As gargalhadas de Vitis, a falação de Calluna, como era divertido, e as aventuras que vivi ao sair de minha pequena aldeia na montanha? Quantas pessoas não usei em minha caminhada, o maior prejudicado fui eu mesmo, fui eu quem mais sofreu com tudo isso, sem nunca parar em lugar nenhum, eu mesmo por causa das ervas que usava me excluía dos lugares por onde passava, partindo novamente. Aprendi a me adaptar a toda e qualquer situação ou lugar, a sobreviver fazendo todo tipo de trabalho, mas toda vez que conseguia me levantar algo acontecia, talvez causado pelo medo que sentia de me prender a alguma coisa e perder tudo. Então me sentia não merecedor de amor, de uma vida boa, amigos perpétuos e um lar assim me entregando novamente às ervas e vinho. Quando acordava de meu transe no meio das matas, o perfume das flores me inebriava, eu me sentia novo e dizia a mim mesmo que não tornaria a acontecer, na próxima aldeia tudo seria diferente e novo, me estabeleceria, encontraria uma boa mulher que me amasse e ensinasse a amar e formaria um lar. Foi quando cheguei àquela aldeia, tudo foi tão rápido, conhecera Calluna, tivera meu contato com Agrimonia e Eupatoria que vieram a se tornar uma só e ser a minha Primeira lição, Genciana, Prunus, Vitis, fora quase preso e depois requisitado pelo rei Fagus, daí em diante foi um atropelo de coisas se sucedendo, agora estou aqui por causa de um tesouro que nem sei o que é.
            “Em minhas divagações sem perceber enumerara todas as pessoas que havia prejudicado, como queria poder voltar atrás e refazer tudo, mas preso ali nada havia de ser feito, apenas esperar pelo melhor. Deveria existir uma saída, podia ouvir os gritos de dor dos outros prisioneiros, o cheiro acre de sangue, sabia que a vontade dos guardas era cortar a cabeça de todos, empalarem nas lanças e desfilarem aldeia afora, mas ainda não podiam fazer isso. Com o passar dos dias as palavras de Ilex e Salix começaram a fazer sentido para mim, apesar de nossos torturadores merecerem a morte, não podia culpa-los por serem como eram. Agiam por instintos animalescos dominados por Strath, era uma batalha sem fim entre o bem e o mal que já existia a milênios, e que não terminaria em nosso tempo, sempre existiriam pessoas boas e más, em maior ou menor grau. Era a forma que o pai usava para perceber os progressos e evolução do povo, nós tínhamos o livre arbítrio de escolher de que lado ficaríamos, quantos já não haviam passado para o lado do bem?
            “Orei por todos, até por Strath, foi quando a porta se abriu e jogaram Larix e Mimulus pela cela adentro fechando a pesada porta em seguida.
            - Miseráveis! - gritei eu acomodando os dois próximos da janela, o ar de fora também era pesado, mas melhor que o de dentro da cela.
            - Não os culpe - disse Larix - não sabem fazer outra coisa, foram criados para agirem por instinto, e foram encontrados pelo mal que se tornou seu senhor, não sabem o que estão fazendo, pelo contrário, perdoe e liberte, como disse Salix. E então? Como foi sua Oitava lição?
            - Que Oitava lição?
            - Centaurium, tomou consciência de tudo o que fez? Você perdoou? Reconheceu que prejudicou muita gente de uma forma ou de outra? Se propôs a reparar o que fez de errado?
            - Mas é claro, apesar de ser muito difícil perdoar esses seres, eu compreendo que não têm culpa, cada um escolhe seu caminho, e quando isso acontece, tem o dever de acolher as conseqüências desta escolha, positivas ou negativas. Mas como reparar estes erros preso aqui?
            - Muita calma meu amigo, em primeiro lugar deve acreditar em sua capacidade e continuar orando por todos, as situações de reparação vão surgir em seu caminho no momento certo. Tem que perseverar e continuar lutando sempre, apesar de ter errado algumas vezes você lutou e prosseguiu tentando novamente, agora é o momento de retomar seu ritmo e constância, levante-se e persevere que garanto que poderá voar e vencer.
            - Isso mesmo! - falava Mimulus que despertara. - Deve vencer seus medos, sei que muitos o afligem, o de não conseguir, de perder Azuen, de não escapar e principalmente o de voltar a agir como antes, você deve vencê-los , aceite o anjo da coragem em sua vida e lembre-se que medo é falta de fé, e fé é algo que você tem e muito, vencer seu próprio medo será sua maior vitória. Trabalhe sua insegurança. Sua Oitava lição não é fácil, ele exige que você tome consciência de tudo o que fez, a Nona será praticada aos poucos, terão situações que você não poderá reparar, estas deverá entregar a seu poder superior, outras, para não se prejudicar mais e aos outros também terão que ser deixadas de lado, lembre-se que a maior reparação que deverá ser feita é permanecer limpo e melhorar a cada dia que passa. Agora, sua Décima lição está lá fora e virá buscá-lo para te levar até sua Décima Primeira.

            “Vitis e seus companheiros descobriram que o dragão fora feito prisioneiro pelo Senhor das Trevas, ele demonstrava seu poder assim. Procurara dominar sua vontade e não conseguira, então o acorrentara na frente do castelo como troféu de seu supremo poder.
            “Procuraram o chefe do acampamento dizendo saber como controlar o dragão, o que o mercenário gostou de saber, porque poderia ganhar um prêmio extra do mestre, quem sabe um reino só para ele onde se proclamaria rei, ou até quem sabe se tornaria mais poderoso que o próprio mestre, afinal era ele quem comandava os exércitos e com o poder do dragão em suas mãos seria invencível. Perguntou como fariam isso e porque deveria confiar em Vitis e seus companheiros.
            - Somos guerreiros e não nos prendemos a nada, não saberíamos o que fazer com um reino, gostamos de liberdade, de viajar, guerrear e conquistar em combate corpo a corpo, nunca fomos vencidos antes. Um reino somente nos atrapalharia, viemos até aqui por  este motivo, e por  moedas e saque também.
            “Foi então concedida a permissão para que se aproximassem do dragão, o que prontamente fizeram. Entre eles estava o ferreiro da aldeia que saberia como soltar as correntes. Ultrapassaram os portões da paliçada e caminharam em direção ao monstro, se tudo corresse como esperavam sairiam voando nas costas do dragão, os cavalos estavam soltos e no momento em que se fossem voltariam para o lado de Magia que os aguardava. O dragão voltou a cabeça para os guerreiros e seus olhos brilharam, sabia quem eram, na profecia seria libertado por onze cavaleiros da luz para em seguida resgatar o prometido, prisioneiro do castelo.
            - Vocês demoraram. - disse-lhes - Vamos, soltem-me e vamos arrasar aquele castelo, as correntes detém meu poder de fogo e capacidade de voar pois enfraquecem minhas asas.
            - Não é assim - tornou Vitis - vamos soltá-lo aos poucos, uma perna de cada vez, pois suas forças não voltarão assim que se quebrarem as correntes, ficaremos de guarda para que eles não se aproximem, de quanto tempo precisa?
            - Um dia - respondeu - apenas um dia será suficiente para destruir as paredes onde está o prometido e voar com vocês daqui.
            - Muito bem então amigos, vamos ver o que podemos fazer.
            “O ferreiro se aproximou das correntes com receio pois nunca chegara tão perto de um dragão antes. - Não será difícil abrir os cadeados, o problema é que foram fechados por magia também.
            - Use sua adaga - retrucou o gigante - é mágica pois veio do Castelo de Cristal.
            “Usando sua adaga constatou que o dragão estava certo, primeiro abriu os quatro cadeados, coisa que somente ele poderia fazer. Aos outros caberia ir soltando as pesadas correntes. Nisso alguns mercenários juntamente com seu chefe se aproximaram e ele bradou:
            - Então, vai funcionar? - não teve tempo de dizer mais nada pois o dragão levantou a cabeça e soltou um urro que estremeceu até as muralhas em volta do castelo, voltou-se em seguida para os mercenários, todos os companheiros mantinham-se ao redor do dragão em suas posições. O mercenários tremiam incapazes de se mover do lugar. Vitis se dirigiu a ele em tom firme e bravo:
            - O que pensa que está fazendo? Está por acaso louco? Estamos procurando servi-lo e estraga tudo, teremos que começar tudo de novo até chegarmos ao ponto em que estávamos, perdemos um dia inteiro pois agora o tirou do transe e o deixou nervoso. Volte para a aldeia e acalme seus homens, devem estar tremendo mais que você, ouça os gritos, é o medo de suas mulheres, crianças e cavalos, vá e não se aproxime mais, vamos procurar consertar o que fez.
            “O mercenário se afastou com raiva, raiva se si por ter demonstrado medo, raiva de seus homens por terem percebido, raiva da forma que aquele guerreiro calmo, mas de voz forte e firme falara com ele, parecia até um nobre...será? Não, não ousariam tanto, vir aqui e se infiltrar no meio do inimigo. Tanta coisa passou por sua cabeça que quase não percebeu o alvoroço na aldeia, alguns partiram, não vieram para lutar com monstros, outros ainda tremiam pensando que o monstro estava solto.
            “Covardes” - pensou consigo - “Não valem as armas que levam consigo, mas eles não perdem por esperar, acabarei com todos, principalmente com aquele guerreiro arrogante.
            - Que tal me sai? - perguntou o dragão a Vitis. - Creio que tão cedo ele não se aproximará daqui.
            - Há, há, há. - gargalhou Vitis - Deve estar trocando as calças molhadas, mas vamos continuar, temos que ir com mais calma agora ou desconfiarão, metade de vocês se coloquem ao redor do...ei, como devemos chamá-lo? Você deve ter um nome não tem?
            - Sim, sou Scleranthus Annuus, o equilíbrio entre a mente e o coração, a ponte entre os dois, sou o príncipe dos dragões e o mais velho entre eles.
            - Bonito nome, mas agora como ia dizendo coloquem-se ao redor dele, um em cada pata e um na cabeça, os outros comecem a soltar as patas que estão voltadas para o castelo pois tenho certeza de que aquele cara nos vigiará da aldeia, quando tiverem terminado, os outros, metade em cada pata soltam as que estão do lado da aldeia e partimos para o castelo, comecemos então e vamos acabar com isso de uma vez.
            “Começaram a trabalhar arduamente e Scleranthus manteve silêncio, seu olhar permanecia fixo no castelo, na janela onde eu estava. Procurava comunicar-se comigo mentalmente, estavam passadas as Oitava e Nona lições, e a minha força aumentara agora.
*inserir gravura da descrição a seguir na página ao lado
            “Por minha vez, eu estava na janela da masmorra, o que estaria acontecendo lá fora? Ouvira um rugido estarrecedor e vira um debate, o castelo tremera e pedras chegaram a se mover com a vibração, sentia seu olhar fixo em mim, parecia me dizer algo, como “fique pronto”. Estavam distantes mas para mim pareceu ser Vitis o guerreiro que debatia com o outro homem, mas procurei não pensar nisso.
            “As horas foram passando e o trabalho não cessava, os homens então voltaram-se para Vitis e disseram:
            - Chegou a hora, vamos todos para o outro lado, Scleranthus, solte outro rugido daqueles para espantar os olhares que nos observam. -prontamente ele soltou um grito aterrador, era tão forte quanto o anterior, e quem os vigiava correu para a aldeia, mais homens debandaram e fugiram, afinal não vieram para combater aquela coisa, sua couraça era impenetrável, apenas balançando sua cauda poderia dizimar a todos se quisesse, caso escapasse, o que seria da aldeia e de todos que nela estavam?
            “Enquanto isso os guerreiros soltaram as outras duas correntes, quando isso foi feito um dia havia se passado desde que os cadeados começaram a ser abertos e as forças de Scleranthus estavam quase em sua plenitude, precisaria alguns dias ainda, mas já era o suficiente para tirá-los dali e levá-los para longe.
            - Agora - gritou Vitis - todos juntos - e as correntes caíram, no mesmo instante Scleranthus se voltou para a aldeia e soltou um hálito quente de fogo em direção a ela, foi um holocausto, a confusão reinou e ninguém sabia para onde correr, o fogo foi dirigido por cima das cabeças e ninguém foi ferido, apenas uns pelos outros na desabalada carreira, atingiu as árvores secas e retorcidas, os telhados que eram de palha e queimaram rapidamente, os cavalos pisoteavam quem se punha à sua frente, a confusão era geral.
            - Subam em minhas costas guerreiros da luz, vamos libertar o prometido. Todos subiram e Scleranthus alçou vôo se dirigindo para o castelo.
            “Eu me afastei da janela e colei junto à porta com meus amigos, nesse momento a pesada cauda de Scleranthus bateu contra as paredes do castelo que ruíram.
            - Vamos! - gritei eu para meus amigos - Partamos daqui.
            - Não - respondeu Larix - você deve partir sozinho, estaremos bem e sairemos daqui a nossa maneira, fique tranqüilo e faça cumprir a profecia, vocês devem sair dessa forma para que se cumpra como está escrito. Adeus Centaurium.
            - Adeus amigos - me despedi pulando para as costas de Scleranthus. Naquele momento vi no céu vários globos de luz como o de Hottonia mas vazios descendo sobre o castelo e penetrarem em suas celas, flutuando em seguida e levando em seu interior os outros prisioneiros para longe dali. Scleranthus se voltou e dirigiu seu fogo ao castelo deixando-o em chamas, eu imaginei que não atingiria o Senhor das Trevas, ardiloso como era deveria estar longe da superfície, escondido nos túneis que deveriam existir sob o castelo com sua guarda pessoal. Ainda não tinha acabado, terminaria apenas com o tesouro encontrado e ele destruído.
            “Scleranthus então se voltou no ar e voou em direção ao reino da luz, sobrevoou a aldeia e fomos observando em silêncio a desolação, nos entristecemos pois devagar as trevas devoravam nosso mundo. Pousou no alto de uma montanha onde confraternizamos. Magia, Cabelos de fogo e os outros cavalos chegaram em seguida.
            “Quem estava na aldeia viu apenas o dragão com homens em suas costas cercados de luz no ar, ao mesmo tempo em que globos iluminados desciam no castelo, saindo mais iluminados ainda com prisioneiros em seu interior. Assustaram-se pois não sabiam se era apenas um resgate ou um ataque também, armaram-se como puderam em meio à confusão enquanto outros apagavam as chamas que dominavam a aldeia. Sobraram poucos mercenários, nenhuma moeda valia o suficiente para enfrentar o que viram. Os “homens-fera” procuravam manter a população sob controle mas não conseguiram, então sua ferocidade os dominou e começaram a abater os que procuravam fugir, permanecendo fiéis a seu senhor. Mas a fronteira era extensa, aquela era apenas uma das fortificações do mal, além do que muitos estavam invadindo nosso mundo.
            “Conversamos, nos abraçamos e não percebemos a aproximação de dois dos globos, Scleranthus disse: - Atenção todos, mensageiros se aproximando. - Nos voltamos e os vimos pousarem, um deles continha minhas armas e o outro Larix e Mimulus que se puseram a falar:
            - É hora de se separarem, Você Centaurium juntamente com Vitis irão com Scleranthus, os outros montem e voltem, levem as montarias de seus amigos pois eles não precisarão delas para onde vão, voltem e juntem-se aos outros guerreiros, vocês se reconhecerão pela luz de suas armas, depois de montarem um pequeno exército somem ao do rei que caso o tesouro demore a ser encontrado vai precisar de auxílio para defender Zanaria. Enquanto isso Centaurium, Scleranthus irá lhe passar a Décima lição levando-o em seguida a Astralis, a Cidade das Nuvens onde receberá a Décima Primeira, daí por diante será com você, e ficará surpreso quando encontrar o tesouro. Mas não devem perder tempo agora, depois irá sobrar para festejarem e você resolver seu assunto com Azuen.
            “Não perguntei nada, recolhi minhas armas e junto a Vitis montei em Scleranthus, ele abriu suas gigantescas asas e subimos ao céu, disse estar com fome, aquele animais lhe davam apenas ovelhas magras dia sim dia não, com medo que ficasse forte demais. Concordamos pois também estávamos famintos. Sem dizer mais nada fez um vôo rasante em uma manada de búfalos gordos e com as garras pegou logo cinco deles de uma vez, pousou ao lado de um rio, pediu licença e começou a comer, deixando-nos um quarto de um deles. Começamos a acender uma fogueira ao que ele riu e disse para nos afastarmos, soltou então uma fina língua de fogo que prontamente fez o que levaríamos tempo para fazer em poucos segundos. Terminou sua refeição e foi buscar mais.
            - Centaurium, tem que me contar como tudo aconteceu, Azuen não pôde dizer muito assustada como estava, encontramos o que sobrou dos que o atacaram, é, você e seu cavalo fizeram um estrago e tanto.
            - Dei-lhe o nome de Magia, sabia que ele muda de cor? E que força ele tem, corre como o vento, e estas armas, que resistência. Mas diga, como estão todos? E Azuen?
            - Vá com calma, uma coisa de cada vez, os cavalos e as armas são mágicos, um presente de Theluris. Os sobreviventes da aldeia estão bem e alguns são os que vieram comigo, dois deles são mulheres, despertaram para a guerra através do sofrimento. Azuen agora está sendo trabalhada, não da mesma forma como você, o que ela tem dentro de si para superar é diferente e sua missão outra. Agora vamos comer enquanto conversamos, a jornada foi longa e cansativa, depois descansaremos.
            “Acabamos adormecendo e Scleranthus foi se banhar no rio, parecia um filhote, voava, mergulhava e tornava a voar novamente, como a liberdade é boa e faz bem ao espírito. Acordamos com ele jogando água em nós com a cauda e dando risadas.
            - Acordem humanos, é dormindo que pretendem salvar o mundo? Temos que trabalhar. Como está Centaurium, te quebraram muito?
            - Um pouco - respondi eu - mas você tem razão, temos que trabalhar e rápido, as trevas estão avançando e engolindo nosso mundo.
            - Centaurium - tornou o dragão - Sua Décima lição é a soma de todas as outras, ela parece ser simples mas não é, pois deve manter sua postura com dignidade, ao se recolher a noite deve reavaliar seu dia e ver onde falhou, admitir prontamente seu erro perante o outro e estabelecer para o dia seguinte objetivos que superem suas falhas anteriores assim progressivamente. Esta lição é a sua lapidação, aos poucos irá se libertando dos padrões do passado, se tornando um homem cada vez melhor. Desta forma dará continuidade também ao que Ilex, Salix, Mimulus e Larix te ensinaram, amar e perdoar, não guardando ressentimentos para o dia seguinte, seja justo com todos, você deve ser inteiro, demonstre sua opinião, mantenha a verdade que conheceu pois ela o libertará, sua vontade se fortalece a cada dia, não parece nem de longe com aquele rapaz franzino, confuso e inseguro, que arrumava confusão por não saber se expressar. Aprender a falar na hora certa é uma virtude, se definir e decidir para onde vai e de que forma, equilibrar seu interior na recepção de coisas novas, e colocar ação em direção ao que deve fazer. Deve se conduzir pelo caminho do coração sem deixar de consultar a sua razão, mantenha um equilíbrio entre os dois caminhos. A verdade interior vai conduzi-lo a luz, é difícil pois o alicerce é o amor verdadeiro, aquele do qual Ilex falara, mantenha o seu propósito, alguma pergunta?
            - Sim, como vou saber se estou fazendo as minhas vontades ou as do Universo?
            - Com o tempo as vontades “Dele” se tornarão as suas, mas esta informação é parte de sua Décima primeira lição, por falar nisso, subam, é hora de partir para a Cidade das Nuvens.
            “Foram praticamente dois dias até lá, não podia acreditar no que meus olhos contemplaram, uma cidade flutuante entre as nuvens, homens voadores armados de lanças e arco e flechas voando ao nosso redor e vários navios como o de Clematis atracados ao que parecia ser um cais aéreo. Scleranthus pousou lá, descemos e aguardamos a chegada de um barco menor para nos levar até a cidade.
            - Diga- me Scleranthus, vamos nos ver novamente? - perguntei.
            - Claro meu amigo Centaurium, ainda viveremos outras aventuras futuramente, agora devo partir, adeus meus amigos e obrigado pela liberdade, é tão bom senti-la. - e se jogou de onde estava abrindo suas asas esverdeadas planando para longe, enquanto isso chegava o barco esperado que deslizou pelo céu até a cidadela de Clematis

Scleranthus Annus - Scleranthus - craveiro