terça-feira, 21 de junho de 2011

Os terríveis Homens-fera


08 - PRISIONEIRO DOS HOMENS FERA

            “Eu me aproximei do acampamento inimigo, parei, desmontei e me dirigi a magia:
            - Magia, é melhor que permaneça aqui ou seu brilho ao luar poderá nos trair está bem?
            “Ele levantou a cabeça aos céus e seu pelo começou a escurecer até adquirir uma tonalidade cinza escuro.
            - É, parece que eu escolhi o nome correto para você meu amigo. Vamos devagar, vou precisar de você para tirá-la daqui rápido como o vento. Não será difícil pois eles estão a pé e pelos rastros carregando peso , provavelmente armaduras de guerra.
            “Aproximamo-nos e pedi a ele que esperasse, fui me arrastando até lá e pude divisar os vultos, eram grandes e fortes, mas estranho, pareciam usar roupas de pele sobre seus corpos. Amarrada pude ver onde estava ela, sim estava viva e as crianças também, um pouco machucada mas viva. Procurei me aproximar dando a volta no acampamento com o máximo silêncio. Orei ao pai para que não se assustassem e comecei a cortar as cordas. Uma a uma começaram a se arrastar por entre as árvores, enquanto isso eles pareciam discutir em uma língua que eu nunca ouvira antes, mais próximo de grunhidos do que de fala. Elas me seguiam em silêncio até onde deixei Magia, quando estávamos próximos um urro foi dado, era o alarme, descobriram a fuga e desabaram a correr em nossa direção, levantamos e corremos também, vi que Magia corria entre as árvores em nossa direção ao ouvir o urro, eles estavam próximos, gritei para que corressem e montassem enquanto eu os distraia, sabia que não podia vencer a todos mas acreditava que daria tempo.
            “Saquei da espada e do punhal os aguardando. Magia passou reto por elas e veio em minha direção saltando sobre eles, parecia soltar fogo pelas narinas, lutamos como pudemos mas eles eram muitos para nós, eu havia contado uns treze no acampamento, mas pareciam ser mais e o pior, não eram homens , apenas pareciam ser, eram algum tipo de gorila mas se comportavam, se vestiam e armavam como homens, de que inferno haviam saído aqueles seres? Não é a toa que elas estavam aterrorizadas. Pensei comigo que não teríamos chance. Gritei para Magia:
            - Leve-as, galope como o vento e traga Vitis, eles não me matarão, querem o prometido e ainda não sabem quem é, corra agora.
            “Ele se foi, elas montavam em suas costas e desapareceram, a última coisa que vi foi Magia se tornando branco novamente e se transformando em poeira, uma clava me atingiu e desmaiei.

            “Magia corria com o vento, um galope tão macio e cuidadoso que parecia ter asas nas patas, elas se agarravam em sua crina e umas nas outras, ele parou apenas duas vezes para que tomassem água e descansassem um pouco, em seguida relinchava mostrando que deveriam prosseguir. Elas estavam fracas e cansadas, mas Azuen ouvira Centaurium gritar para buscar Vitis, não o conhecia mas deveria ter um exército para resgatá-lo.
            “Que ironia - pensou ela - “Tão próxima dele e não poder tocá-lo, dizer o quanto sentira sua falta...”
            “Montaram novamente e a desabalada carreira recomeçou, o percurso de três dias foi feito em menos de dois, pararam uma Terceira vez ao lado de sua choupana , elas desceram e olharam a casa onde haviam passado a vida, estava arrasada, procuraram algo que servisse e se foram novamente. Magia atravessou a aldeia a galope e entrou na mata novamente aumentando a velocidade, elas fecharam os olhos por causa dos galhos e folhas. Magia sabia o que estava fazendo. Conhecia o lugar para onde se dirigiu sua manada, já estivera lá antes com os Centauros, conhecia a missão de Centaurium e sabia que deveria acompanhá-lo onde fosse. Quando chegou o momento fez uma curva rápida e entrou no espaço sagrado. Elas quase caíram de suas costas mas se mantiveram firmes. Só então ele diminuiu o passo parou na lagoa soltando um estrondoso relincho ao que todos se voltaram, os da aldeia correram tendo Vitis à frente, os cavalos todos se aproximaram e a égua negra de Vitis se enlaçou no pescoço de Magia, sim, era a fêmea dele.
            “Quando Vitis chegou, dirigiu-se rapidamente a Azuen e lhe perguntou o que houvera, onde estava Centaurium...
            - Deve ter sido feito prisioneiro daqueles seres horríveis, não são humanos, parecem macacos enormes e se comunicam por grunhidos, usam uma armadura negra com um brasão escarlate que nunca vi antes, parece uma garra vermelho vivo, são o próprio mal. Ele está correndo perigo, mandou que buscássemos Vitis, quem é? Você o conhece?
            - Sou eu, vou partir imediatamente se me for permitido, agora vamos, está abatida, tem que se alimentar e descansar. - pediu às mulheres mais próximas que cuidassem dela e das crianças. Em seguida dirigiu-se para a floresta e implorou aos céus, que seu caminho fosse iluminado novamente para que pudesse ir ao encontro de seu amigo e ajudá-lo. Ao abrir os olhos viu como que por encanto a mata se abrir e iluminar, a permissão fora dada e não havia tempo a perder.
            “Correu para a lagoa, chamou o cavalo de Centaurium e também Cabelos de fogo, sua égua, pediu que se preparassem pois iriam partir em breve, em seguida foi para a clareira onde estavam acomodados juntar provisões. Olhou para Bromus e agradeceu a permissão dada, ao que recebeu um sorriso em troca. Alguns dos homens poderiam acompanhá-lo mas deixaria a escolha para eles, não sabia direito o que iriam encontrar. Pelo que entendera, as forças do mal enviaram seus guardas para seqüestrar todos os escolhidos que encontrassem. Azuen não era uma delas pensava ele, devem ter se encantado com sua beleza, mas isso acarretou na prisão do escolhido, enquanto não soubessem quem era, estaria em segurança.
            “Alguns se ofereceram para acompanhá-lo, o que aceitou prontamente. Avisou que a jornada seria longa e cansativa para todos, estavam a vários dias de distância, se bem que a pé, mesmo assim, não deveriam confiar muito pois as trevas poderiam surpreender, existia muita magia envolvida, mas magia negra, as forças da luz eram fortes, porém entrariam no reino das sombras agora, Azuen disse que a direção que seguiram era a dos Pântanos nebulosos de Thorian. Não deveriam pensar muito no que iriam fazer agora, para não gerar ansiedades desnecessárias, e para a energia do pensamento não ser pressentida. Seguiram para a lagoa e Vitis se voltou a eles, eram dez, dois deles mulheres, porém tão habilidosas quanto os homens, senão mais. Como fizera bem a todos, apesar do sofrimento necessário, o ataque e a reclusão, habilidades latentes despertaram, descobriram a coragem adormecida, pena que a duras perdas. Deu um assobio e tanto Magia como Cabelos de fogo relincharam em uníssono, então dez dos cavalos escolheram seus mestres, por quem dariam a vida se necessário.
            “Um globo de luz começou a descer, mas sem Hottonia dentro e sim, selas, armas e armaduras da luz para todos, aterrizou e desapareceu aos poucos, os novos guerreiros ficaram fascinados. Vitis gritou:
            - Peguem o que encantar a cada um, há uma arma especial para cada, cujo manejo dominam, espadas, bestas, machados, adagas, bastões, enfim, tudo o que precisam, são armas que vieram do Castelo de cristal, são mágicas assim como nossos cavalos, aprontem-se e vamos partir.
*inserir gravura da descrição a seguir na página ao lado
            “Os cavalos foram encilhados, os víveres colocados em bolsas de couro foram presos nas selas e então partiram a galope atrás de Magia, pois conhecia o melhor caminho até o local fatídico. Quem os visse passar não acreditaria, onze cavaleiros que brilhavam como a luz do bem galopavam como o vento seguindo um grande garanhão branco, pareciam voar pelas estradas e matas, a noite só se via uma luz passando rapidamente e o ruído dos cascos suaves como se sobre colchões de ar.

            “Acordei com uma dor lancinante na cabeça que estava coberta de sangue, estava pendurado pelas mãos e pés amarrados a uma vara comprida e segura na frente e atrás pelo inimigo, minha visão estava turva pela pancada e sangue, mesmo assim pude vê-los. Da mesma forma que existiam seres lindos e fantásticos, também haviam os grotescos, pareciam macacos enormes e vestidos para a guerra, de onde viriam? Ou melhor, para onde me levavam? Coisa boa não era, procurei não demonstrar que estava consciente, não sabia do que seriam capazes. Pensamentos me invadiam, Magia teria conseguido levar minha amada até Vitis? Estariam bem? Como fazer para escapar antes que chegassem onde me levavam? Seria mais difícil lá, o número deles aumentaria. Em determinado momento pararam junto a uma nascente para descansar, a quanto tempo estaria desacordado? Lutamos a noite e o entardecer estava chegando, um dia? Dois? Minha boca estava seca e amarga. Fui jogado em um canto ao que soltei um gemido, nisso todos se voltaram para mim com seus arcos, machados e espadas em punho, eram seis, bom, eu e Magia fizemos um estrago neles; o que parecia ser o líder do bando gritou algo para os outros e na hora verificaram as cordas, foram mais apertadas. Gritei que estava com sede, apontei para a água com a cabeça e pareceram entender. A uma ordem, um deles se moveu a contragosto e foi buscar água que foi despejada em meu rosto, sorvi o que pude e me calei, tinha que recobrar as forças. Eles demonstraram estar assustados comigo, isso era bom e mau ao mesmo pois ao menor movimento que eu fizesse me matariam com certeza. Sentaram-se e começaram a conversar, a língua deles era de grunhidos e sinais, eu não compreendia uma palavra.
            - Ele acordou, o que vamos fazer?
            - Nada - respondeu o líder - vamos alimentá-lo o suficiente para que fique vivo, dar-lhe água e mante-lo como está, só que bem amarrado a uma árvore.
            - Eu não vou dar comida na boca dele - disse outro. Ao que o líder respondeu:
            - Não precisa, jogaremos os ossos no chão e ele que se agache como cão que é e coma se quiser.
            - Viram como lutava? Parecia um demônio, e aquele cavalo? Gostaria de pegá-lo, poderia conseguir muitas moedas com ele.
            - Sofremos muitas baixas, eles mataram oito dos nossos antes de tombar, e o cavalo fugiu levando as escravas que íamos vender na fronteira. Mas o mestre ficará satisfeito quando chegarmos, afinal nem precisamos procurar muito, um dos escolhidos veio até nós de presente e quem sabe não é o prometido? Ninguém sabe quem ele é, pode ser até esse aí, do jeito que luta. É...o mestre ficará contente, talvez ganhemos um prêmio extra por ele - disse o líder.
            - Chefe, o que vamos fazer agora? O cavalo se foi com a mulher, e se voltarem com mais guerreiros como ele? Seremos massacrados.
            - Passemos a noite aqui, ao amanhecer retomaremos a marcha e paramos apenas quando chegarmos à fronteira onde haverão mais dos nossos à espera. Por enquanto nos revezaremos na guarda do acampamento e principalmente daquele cão, não devemos subestimá-lo.
            “Não havia como escapar agora, pensava comigo, as cordas estavam bem apertadas e eles não se descuidavam, era melhor permanecer quieto até que estivessem mais confiantes e se descuidassem.
            “Jogaram restos do que comeram no chão, para que eu pegasse com a boca como um cachorro para humilhar-me, o que não fiz. Retomaram a marcha ao amanhecer, ela foi forçada, para mim foi doloroso, amarrado na posição em que estava. Chegaram à fronteira com a noite bem alta, eu estava mais machucado ainda, pois durante o trajeto não podia me desviar dos galhos e as costas batiam nas pedras, à noite piorou pois não pararam, e não conseguiam enxergar muito bem. A chegada do grupo foi um alvoroço, todos já estavam a espera pois os sentinelas avisaram. Era uma aldeia fortificada com torres de observação e muito bem armada. Existiam seres como os que me levaram e homens também que haviam passado para o lado das trevas, por cobiça e ambição, mulheres e também animais estranhos que nunca se aventuraram no mundo da luz.
            “Que lugar é esse meu pai, é assim que se parece o mundo escuro? Que coisa horrível, obscura, a noite é diferente, não se vê estrelas e a lua quase que não se percebe por trás desta névoa cinzenta. É isso o que querem fazer com nosso mundo? Não, não vou permitir, tenho que escapar e encontrar o tesouro, dizem que contem tanta luz que até as trevas mais negras ou o próprio senhor delas se estremece e se afasta, estaremos salvos então.
            “Pude observar um ser gigantesco por trás das sombras no limite da aldeia, era tão grande que se via parte de seu corpo e de suas asas por cima da paliçada, era o que eu mais temia, um Dragão de fogo, mas parecia ser um prisioneiro também, estava acorrentado, além dele havia um castelo de onde vinha todo mal existente, era Thengul, a morada de Strath, o senhor das trevas. Fui arrastado novamente e levado em direção a ele, a ponte foi abaixada e os portões abertos. O cheiro era insuportável, seres grotescos semelhantes a lagartos, armados com lanças montavam guarda e mulheres escravizadas de meu mundo estavam por toda a parte, com os rostos tristes de quem não imagina seu destino. Uma pesada porta de ferro se abriu e me levaram corredor adentro. Atravessamos galerias e descemos escadarias, o mau cheiro se tornava pior a cada passo, por fim, várias portas depois, chegamos a uma cela grande onde muitos estavam sendo torturados, nada a ponto de matar, apenas causar dor, muita dor. Imaginei serem todos escolhidos também...mas só havia um prometido entre todos e este ninguém sabia quem era, dos humanos, apenas o rei e alguns guias sabiam, eu mesmo fui o último a saber.
            “Fui jogado no calabouço e esquecido lá, podia ouvir os gritos pedindo por clemência e as risadas dos algozes, se eu dissesse que era o prometido, talvez amenizasse o sofrimento deles, mas ao mesmo tempo seria a sentença de morte de todos, então achei melhor permanecer quieto. O que não poderia acontecer era me encontrar com o Senhor das Trevas, pois apenas ele naquele lugar poderia ver a luz que estava comigo, e Vitis também não podia se aproximar, não teria chance contra aqueles seres e os mercenários que os acompanhavam. Tinha que conseguir enviar uma mensagem, mas como? Ao menos me desamarraram, esperei meus olhos se habituarem à escuridão, não estava sozinho ali, haviam mais homens comigo. De uma pequena janela podia-se divisar o monstruoso ser do lado de fora.
            “Meus novos companheiros me receberam bem, apenas um não se moveu, me ajeitaram em um canto e explicaram onde estava.
            - Não podemos dizer que seja bem vindo a este lugar, mas é um de nós agora e será tratado como tal, deixe me apresentar, meu nome é Ilex, este é Mimulus e aquele é Larix, o outro do canto não sabemos, não disse uma palavra desde que chegou aqui, apenas sentimos que nosso destino está interligado ao do prometido e ao tesouro da libertação, creio que agora tudo será esclarecido. Diga-nos, você é o prometido? Nós três tivemos o mesmo sonho um tempo atrás: Que encontraríamos o prometido em uma prisão, no princípio pensamos que era aquele, mas seria o quinto a chegar, nossa esperança quase se esvaia já antes que chegasse.
            “Quando fui abrir a boca para responder, o homem que estava mudo aquele tempo todo me chamou pelo nome:
            - Centaurium, você chegou. Graças aos anciãos, passou por sete lições, agora vai passar por mais cinco para poder libertar o povo. Ilex, meu amigo, não se lembra? - perguntou descendo o capuz - Sou eu, Salix, já nos encontramos outras vezes, me desculpem todos vocês, mas não podia me identificar antes da hora - dizendo isso ergueu os braços e um globo se formou entre suas mãos, neste momento Ilex, Larix e Mimulus tomaram consciência de quem eram e qual a sua missão ali, a Oitava e Nona lições, e um dos escolhidos estava à sua frente. Não disseram nada, apenas foram para seus cantos em silêncio e ficaram assim, como que rememorando tudo o que deveriam fazer.
            - Salix - gritei eu - que surpresa encontrar você aqui, mas, como conseguiram te capturar, você é um dos guias e não poderiam prendê-lo, a menos que quisesse e o permitisse. E agora? Como vamos sair daqui?
            - Não se preocupe com isso antes do devido tempo, na hora certa tudo se resolverá, veja aquele dragão, já havia visto um antes? Ele se chama Scleranthus e é a sua Décima lição, inclusive outra surpresa, mas isso mais para frente, agora está nesta cela junto de suas Oitava e Nona lições, aprenda, creio que no grau em que se encontra agora será rápido, depois pensaremos em sair daqui, descanse um pouco pois o amanhecer está próximo e virão nos alimentar, não querem ninguém morto até encontrarem o prometido, nos trazem uma refeição por dia, é horrível, mas nos mantém vivos. Não converse muito durante o dia, apenas reflita o que passarmos a você. No momento certo terá seu encontro com Scleranthus.
            - Mas ainda não me respondeu, como veio parar aqui? - perguntei.
            - Me vesti como um guerreiro, fui para um local próximo da aldeia e me deixei capturar. Agora vamos, descanse um pouco, fui trazido da mesma forma que você, só que de mais perto, imagino como esteja.
            “Me deitei no canto que fora reservado a mim e tentei dormir, mas não consegui, não conseguia entender, que lições seriam estas para serem passadas dentro de uma prisão? Que lição um dragão poderia me passar? Senti calafrios ao lembrar seus olhos, estavam me fitando na hora que Salix o mostrou e disse quem era, profundos e brilhantes, de suas narinas saia fumaça e cada dente seu deveria ter o meu tamanho. Ele estava deitado, imaginava seu tamanho em pé. Aos poucos adormeci pensando em como estaria Azuen, se havia conseguido escapar.

            “No espaço sagrado, ela estava na lagoa se refrescando em Água da pedra, esta por sua vez lhe transmitia sensações pois não lhe era permitido falar, então, através das sensações que recebia, ela sentia como se estivesse tendo idéias que não tivera antes, mesmo assim, sua preocupação com Centaurium era enorme, não sabia se estava morto ou vivo, o que seria pior nas mãos daquelas feras. Sempre fora apegada aos filhos, e depois que o conhecera a ele também, sabia que não o deveria ter deixado partir naquele dia, por outro lado, se permanecesse estaria morto agora na choupana e ela nas mãos do inimigo. Ainda não entendera o que estava acontecendo, achava que eram apenas salteadores de terras distantes em busca de escravos, não sabia nada de guerras, exércitos e muito menos da história do escolhido que acreditava menos ainda. Não percebera que não estava mais sozinha, bem devagar duas mulheres entravam na água e se aproximavam dela.
            “Você o ama, não é Azuen? - indagou uma delas.
            “Imersa em seus devaneios Azuen assustou-se e voltou o olhar para a direção da voz. Viu uma mulher madura, bonita, tinha os cabelos vermelhos, a outra era bonita também e se vestia de azul.
            - Quem é você? Como conhece meu nome, é da aldeia? Não a vi na clareira? - estava cheia de perguntas pois percebeu que aquelas mulheres sabiam muito.
            - Calma, não se aflija, meu nome é Aesculus Carnea, se achou complicado pode me chamar de Carnea mesmo, é mais fácil. Minha amiga se chama Cichorium Intibus, Vamos com bastante calma para a margem que responderei suas perguntas e outras que ainda não fez.
            “Azuen assentiu e as acompanhou até a margem, sentaram-se uma próxima da outra e Carnea tomou a palavra:
            - Vamos pelo princípio, não somos da aldeia, somos apenas enviadas para ajudá-la, digamos, por amigos que querem que fique bem. Antes de mais nada, quero que entenda e aceite, Centaurium é um dos escolhidos de que falam as profecias antigas, responda-me: Você lê as escrituras? Elas falam que em uma determinada época as trevas empreenderiam uma guerra contra o mundo da luz, o seu mundo tal como o conhece. Neste tempo muitos seres, chamados de escolhidos, partiriam em busca de um tesouro sem saberem qual seria. Entre eles estará o prometido, aquele que encontrará o tesouro depois de passar por testes e duras provas de honestidade, rendição, renúncia, entrega e humildade, Este tesouro de luz tem o poder de afastar as trevas para o lugar de onde veio. Conforme vai chegando mais próximo do tesouro o prometido fica mais forte e poderoso, a luz começa a fazer parte dele.
            - Um momento - interrompeu Azuen - quando Centaurium e seu garanhão lutaram contra aquelas feras existia um halo de luz ao redor dos dois e eles pareciam maiores, o cavalo era cinza escuro e se tornou branco azulado quando começou a galopar para cá como se voasse, é a isso que se refere?
            - Sim.
            - Então Centaurium...
            - É o prometido, creio que ele ainda não sabe, mas a cada dia se torna mais forte e puro, seu poder aumenta com a luz, e em breve as trevas serão tragadas por ela e exiladas em seu mundo novamente, isso até o momento de voltarem e um novo prometido ser preparado.
            - Mas e os outros escolhidos, o que será deles?
            - Desempenharão diversos papéis, alguns se tornarão guias, curadores, conselheiros e assim por diante. Mas vamos falar de você, deve estar pronta para encontrar e aceitar Centaurium como realmente é depois de cumprir a profecia. Vamos trabalhar? Em primeiro lugar deve procurar o desapego, suas carências são muito grandes e seu amor deve se tornar mais incondicional do que já é, sem expectativas irreais. Como se sentiu ao banhar-se nestas águas?
            - Bem, foi estranho, é como se o vazio que estava em mim estivesse sendo preenchido
            - Pois é, fomos enviadas para que possa entender o que o outro representa para você, você tem como hábito a virtude de cuidar do outro, mas isso de uma forma desequilibrada gera uma preocupação negativa e ansiedade, não por maldade ou egoísmo, mas é a sua forma de amar, sua preocupação é tanta que agindo assim acredita manter seus filhos, amigos e no caso Centaurium fora de perigo enquanto estiverem sob seus cuidados. Esta sua carência se deve ao modo como foi criada. Foi afastada cedo do convívio familiar por ter que começar a trabalhar cedo, seus pais se foram deixando-a só. Conheceu seu marido e teve seus filhos, mas seu marido também foi tirado de você deixando-a só novamente, mas tinham as crianças, se apegou a elas para se sentir amada, teve que trabalhar dobrado, foi quando começou a dançar, já dançava antes, mas para seu marido que se foi, agora era para viver e cuidar das crianças. Foi quando surgiu Centaurium em sua vida, um homem criança que parecia desprotegido, carente e com um olhar meigo, de quem precisava de carinho e proteção, além de poder mostrar o poder e qualidades que tinha dentro de si. Transferiu para ele todas as suas carências que ainda não estavam preenchidas, e passou a cuidar dele, não deixando que se metesse em encrencas. Mas ele tinha uma missão para cumprir e o chamado foi mais forte, ele partiu e você entrou em desespero, quase como está agora, mas não tão grande, antes ele havia partido, agora ele foi capturado por monstros.
            - Existe uma castanheira de frutos doces na floresta, relaxe um pouco à sua sombra todos os dias, te ajudará a superar esta fase, banhe-se nestas águas, te fará bem. Deve aprender a entender o outro e amá-lo como é, seus pensamentos devem ser limpos de preocupações em relação a outras pessoas para deixá-los livres pois o pensamento é energia, e atrai para nossas vidas o que mais queremos e precisamos, do mesmo modo que atrai o que mais tememos. Perceba que não está assim com seus filhos, transferiu tudo para Centaurium. Agora é o momento de refletir, aprender e libertar, preencher o vazio que está dentro de você com compreensão. Não pergunte de mim aos outros, não me conhecem e não saberão responder, agora vou embora. Adeus, e não fique ansiosa, tudo se resolverá em breve.

Ilex Aquifolium - Holly - azevinho, malva rosa
Mimulus Guttatus - Mimulus - mimosa
Larix Decidua - Larch - lariço
Aesculus Carnea - Red Chesnut - castanheira vermelha
Cichorium Intybus - Chicory - chicória